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21 de outubro de 2008

KILL´N ALL


Desde meu aniversário venho jogando o jogo SPORE, e pelo que vejo, não vou enjoar tão cedo. Dentro desde jogo, como já falei antes, você faz muitas coisas. Dentre elas, você recolhe relíquias de civilizações alienígenas, que podem ser pedras preciosas, estátuas, vasos, livros ou pergaminhos, dentre outras coisas das quais não me lembro.

Alguns destes pergaminhos são relativos à religião do SPODE. A adoração ao deus Spode é a religião mais comum na galáxia dentre as diversas raças alienígenas, e a maioria de seus adoradores se comporta de maneira totalmente radical e extremista. Terminei de travar uma guerra contra eles em meu setor aonde eu tive que sistematicamente exterminá-los para poder ficar em paz, pois eles atacavam minhas colônias o tempo todo e não aceitavam minhas tentativas de obter trégua. O resultado foram umas 4 raças a menos no Universo e mais umas 30 colônias paro o meu império.

Antes deste evento, eu havia achado um pergaminho SPODE que explicava como a religião deles lidava com outras religiões e ideologias. E percebo que os criadores do jogo viram isso em boa parte das religiões no mundo hoje, algumas mais, outra menos explícitas. Mas a idéia é semelhante em todas.

Vou descrever com minhas próprias palavras o que o pergaminho dizia: “Os adoradores do Spode devem ser vigilantes com relação a toda e qualquer doutrina ou ideologia que possa por em dúvida sua crença. Quando uma pessoa fica em dúvida sobre o que crê, sua felicidade termina, pois é impossível para alguém viver sem uma base que o sustente. É por isso que é obrigação de todo adorador do Spode exterminar e eliminar toda e qualquer religião ou ideologia que leve dúvidas à fé no Spode”.

Eu me sinto contaminado pela dúvida há algum tempo. E em certos momentos, triste, pois me pergunto se estou agindo da maneira correta. Mas este é o preço pelo livre pensamento. O que me importa é seguir aquilo que sinto e acredito. Não podemos nos deixar levar pelas palavras de homens.

Muitas religiões, se não todas, tentam vender esta idéia para você, a de que você não pode ter dúvidas, não pode pensar a respeito, não pode ouvir opiniões divergentes de cabeça aberta. Isso pode mesmo levar a dúvida. Mas a dúvida não precisa ser ruim, como descobri. A dúvida lhe dá a oportunidade de uma visão em alto nível. Sem esta dúvida, você é um guerreiro no meio de uma batalha sangrenta, que olha para os lados e vê infinitos inimigos, ficando desanimado, ou que vê poucos inimigos, e se sente vitorioso.

Com a dúvida, você pode se sentir mal por não estar lutando ao lado daqueles valentes guerreiros, mas ao ficar mais distante, e um pouco acima do terreno da batalha, você consegue ver que na verdade as linhas inimigas estão extremamente enfraquecidas, e que só mais alguns poucos deles restam de pé, e que vocês podem ganhar a guerra. Ou ver que eles estão muito mais fortes do que os guerreiros no campo de batalha podem imaginar, e préviamente pensar em alguma estratégia.

A dúvida pode lhe deixar tão cético que você fica preso a um modelo de pensamento aonde nada pode ser verdade, este é o perigo (e eu já conheci muita gente assim). Isso é capaz de matar alguém aos poucos. Mas a dúvida pode na verdade lhe dar a oportunidade de ver por entre brumas de malícia, e distinguir e discernir dentre o que é certo e errado, bom e mal.

Existem pessoas que usam sua fé como muleta, como sustentáculo para os vazios de sua vida, e que se mantém propositadamente presos a isso por uma série de motivos. Tornam-se fanáticas. E da mesma forma, há aqueles que eu classifico como céticos fanáticos, que só se contentam em desmentir tudo o tempo todo, desdenhar e questionar.

Nem um e nem o outro estão certos. O que falta ao ser humano, nesta e em quase todas as outras questões, é equilíbrio. Este talento, que julgo ser uma capacidade fundamental o progresso, infelizmente anda cada vez mais raro dentre os homens.

Religiões e correntes de pensamento, culturas e filosofias, todas parecem se digladiar em uma batalha sem fim. Uma tentando matar as outras, em busca da hegemonia. No que isso nos levará? Não consigo deixar de pensar no que ocorreu na Irlanda nos anos anteriores aos de 1990, e em todos os conflitos de cunho religioso (entre católicos e protestantes,) e nacionalistas ( entre republicanos e monarquistas).

Será que a próxima grande guerra não está sendo formada, pouco a pouco, discussão a discussão, nas esquinas, escritórios, escolas, clubes e(em boa parte) na Internet?

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