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25 de fevereiro de 2014

QUE LUZ SOU EU? SEM ESPAÇO PARA A CULPA

"José o Carpinteiro"
de Georges de La Tour
http://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_the_Carpenter
Em mais uma pregação do meu pastor - Rubens Santos, titular da Igreja Batista Memorial do Centenário em Campinas – uma mensagem bastante interessante nos foi apresentada, ainda baseada nas bem-aventuranças (Mateus 5), na verdade em sua continuação.

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.
Mateus 5:13-16

Há uma conotação, dada pela igreja de forma geral, que diz que DEVEMOS SER sal e luz, e de que exista uma obrigação em sermos assim. Mas o texto não nos conclama a uma obrigação, mas sim a uma natureza: não nos tornamos, já somos.

Somos desafiados pelas pessoas a sermos sal e luz, em uma interpretação equivocada de que devemos nos ater a conter nossos impulsos, a não olharmos e darmos vazão às oportunidades para cometer o mal e aquilo que não é a vontade de Deus. Bem, é isso, mas muito mais e ao mesmo tempo mais simples. É se comportar e ter atitudes que vão contra a cultura humana do egoísmo e submissão pelo uso da força. É se preocupar com o próximo, respeitar o ser humano, agir com bondade, com calma e paciência. É ser equilibrado e justo, buscando o bem comum. É amar.

O conceito de ser sal e luz está logo após os versículos das bem-aventuranças, e não são um novo assunto mas sim uma complementação (ou conclusão) das próprias bem-aventuranças que Jesus falava anteriormente, que são as qualidades do Reino de Deus manifestas em nós e por nós. Não há portanto uma obrigação em ser sal e luz, mas sim uma constatação de que uma vez aceitando Cristo, já somos sal e luz, sendo este sal e luz manifestações da nossa nova natureza como salvos.

E ai me pego nos dias atuais, onde ando sem a menor paciência e a irritação me domina, por um monte de razões que diante de Jesus Cristo não são justificativa alguma.

Uma mulher muito sonsa parou o carro na entrada do meu prédio, bloqueando entrada e saída de veículos (e eu estava tentando chegar em casa, com o dedo dolorido de uma cirurgia e cansado após um sábado inteiro estudando em minha pós graduação), para deixar um papel na portaria. Ela foi se arrastando, e demorou bem mais do que 3 minutos, pegando e depois colocando os papéis no porta-malas do carro. Acabei gritando com ela e minha vontade era de ver o sangue dela escorrendo pelas ruas.

Alguns dias depois, em casa, desejei em voz alta o mal aos proprietários da academia que fica de frente com meu prédio e com a qual tenho sérios problemas, por fazerem imenso barulho todos os dias até as 21h. Minha esposa mesmo me olhou com receio e me disse: "olhe bem o absurdo que você está falando".

Fiz exatamente o oposto do que Deus espera de mim., para minha vergonha e desserviço ao Reino.

Não me vejo como sal e nem como luz. Não vejo em mim as qualidades da nova natureza que eu deveria ter adquirido. Não vejo em meu proceder a mudança que dizem que apenas Jesus promove. Se todas essas mudanças no entanto só ocorrem por meio do poder de Cristo, só posso supor que eu nunca o aceitei verdadeiramente - o que me deixa em maus lençóis pois não sei de que outra forma eu deveria aceitá-lo então - ou as mudanças já ocorreram em mim e eu sou incapaz de reconhecê-las.

Há ainda uma terceira hipótese, e penso, seja a mais obvia.

Não sou um idiota. Sei que todos os crentes tem explosões como estas e que todos somos pecadores e que todos falhamos e iremos falhar até nossa ida para a Glória do Senhor, e que nossa vida cristã é essa luta constante pelo aperfeiçoamento no Senhor. Me incomoda muito não conseguir ter o domínio próprio que sempre julguei ser marca registrada do crente, o comportamento manso, o amor incondicional e o proceder virtuoso que faz com que as pessoas vejam Cristo vivendo por meio daquela pessoa. Mas acho que esse é o ciclo natural da vida cristã:

Deus nos aperfeiçoa durante todas as crises pelas quais passamos. Falhamos miseravelmente na maior parte do tempo, no início da nossa caminhada, e a consciência de Cristo surge então para nos confrontar, não como um dedo acusador que demonstra "você pecou" mas sim um abraço amoroso que diz "vá e não peques mais" pois o trabalho de acusação já é feito perfeitamente por nós mesmos, pelas pessoas a nossa volta e pelo próprio Satanás, nos esmagando em culpa.

Caminhar com Jesus é um aprendizado, uma evolução, uma mudança gradual em nós rumo ao formato de Cristo. Tudo nesse mundo é temporal, as coisas não ocorrem imediatamente e toda obra leva seu devido tempo. Deus construiu nossa realidade física dentro destes princípios, e mesmo tendo todo o poder para agir fora dessas regras, acho que Ele não faria isso, pois tais regras tem sua razão de existir.

Me incomoda ver como eu devia ser e constatar no quão longe estou de me aproximar dEle, e entristecê-lo, e não conseguir demonstrar por meio da minha vida a verdade que Ele é, e com isso, desestimular pessoas a se aproximar dEle por acharem que, por falhar, eu não creio ou aquilo em que creio é falso.

Não pretendo desistir daquele que nunca desistiu de mim. Porque eu sei que essa é a vontade do Senhor: não que eu peque, mas que eu me deixe mudar, dia a dia, pela percepção de meus pecados e de como meu proceder deveria ser. E se hoje sou uma luz pálida, uma chama frágil que tremula na escuridão e que muitas vezes parece não iluminar nada, sei que Deus está ao meu lado e sempre buscará alimentá-la para que se torne cada vez mais brilhante.

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