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11 de março de 2014

INSENSIBILIDADE DE UM FALSO SAMARITANO

O Bom Samaritano
Ferdinand Hodler

E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.
Lucas 10:30-37

A passagem do Bom Samaritano é uma das mais marcantes da Bíblia para mim por manifestar uma das principais características que um cristão genuíno tem: a caridade e o comprometimento com o próximo. Essa passagem é direta e prática, carregada de ensinamento e significado, simples... mas absurdamente difícil de ser aplicada no nosso dia a dia.

O "não ajudar a quem parece precisar de ajuda" é um comportamento natural na nossa sociedade, pois muitos espertalhões folgados e mal intencionados se aproveitam da situação para se fazerem de coitados e praticar desde a mendigagem desnecessária até roubos e chantagens. Você provavelmente já passou por isso, tenho certeza.

Mas e quando é claro que uma pessoa precisa de fato de ajuda e você, desacostumado a praticar esse tipo de amor, ignora, olha pro outro lado, se esquiva? Eu passo muito por isso, e todas as vezes me sinto um idiota porque eu devia ter o desprendimento de ser caridoso, de ajudar, de me envolver. Todos nós devíamos. E não por sentimento de culpa - que é usado por muitos para arrancar uma "caridade" sua - ma sim pelo amor e sincero desejo de ajudar um ser humano. Um ser humano! Um ser para o qual desaprendemos a amar.

Estes dias eu estava indo almoçar, e na porta do restaurante havia um morador de rua sentado, meio acabado, olhando para o infinito. Pensei se ele queria algo para comer, mas fiquei com medo de perguntar. Medo dele querer conversar comigo ou de que ele me visse como um salvador e ficasse sempre atrás de mim para dar comida a ele? Medo de me tornar responsável por ele em algum grau? Não importa, foi apenas medo. Mas por que eu não tenho mais medo do fato de não cumprir a vontade de Deus?

Veja bem, não foi pelo dinheiro: uma marmita naquele restaurante seria barata de pagar. Então por que eu não fui lá, perguntei pra ele se ele queria uma marmita? Por que fui omisso?

E esse é só mais um exemplo da minha babaquice e auto-engano. É uma barreira que não consigo quebrar, e assim vou agindo como levita ou como sacerdote... sem me sujar, sem me envolver, sem amar.

Esse post não contém nenhuma reflexão - o ensinamento que Jesus deu ao falar essa parábola é claro como cristal. Este post é apenas um desabafo e um reconhecimento do meu pecado e da percepção - antiga - de que eu preciso mudar e melhorar, não apenas - mas ainda sim - nisso.

Assim, como um falso samaritano, finjo ajudar, finjo me importar, finjo ser o que não sou mas devia ser, e tento me enganar quanto ao estado deplorável que é minha moral e minha ética.

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