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9 de janeiro de 2018

DESAMPARO


Tudo começou a menos de um mês atrás, no segundo dia das minhas férias de fim de ano, quando minha sogra caiu dentro do ônibus e quebrou o colo do fêmur. Se você já passou por isso em sua família vai saber o que veio em seguida: descaso total da companhia de ônibus (que falou que não vai se responsabilizar por nada - vamos entrar com processo), desespero ao correr para uma Unidade de Pronto Atendimento, desespero ao transferir minha sogra para um hospital público que esta caindo aos pedaços - no nosso caso foi mais grave já que o hospital está sob intervenção devido a escândalos de corrupção e havia uma total indefinição de quando a cirurgia para colocação de prótese ocorreria, já que não tinha nem algodão, quanto mais uma prótese de quadril.

Some a isso o fato de minha sogra ser uma idosa de 72 anos cheio de problemas médicos como lúpus e perda de visão, viúva, filha única, e minha esposa ser a única filha dela. Some a isso minha sogra não ter plano de saúde por ter desistido do dela (por ser caro demais) sem nos consultar e pedir ajuda para pagá-lo (o que teria evitar muito do desespero pelo qual passamos). Some a isso a situação toda ter ocorrido entre o natal e o ano novo, e absolutamente tudo estar diversas vezes mais difícil de fazer porque todos estão de férias ou folga, ou simplesmente de saco cheio da vida e não querem colaborar em um ambiente naturalmente estressante (hospitais).

Por providência divina, minha sogra, servidora estadual aposentada, paga o plano do IAMSPE (http://www.iamspe.sp.gov.br), e o hospital deles em São Paulo (Hospital do Servidor Público, um excelente hospital) a aceitou para fazer a cirurgia.

Fora o fato de minha esposa ter morado em um hotel próximo ao hospital por quase duas semanas e eu ter pago uma fortuna por uma ambulância u.t.i. móvel para transferir minha sogra de Campinas para São Paulo (nem ambulância nos ofereceram), tudo deu certo, a cirurgia foi feita, minha esposa conseguiu trazer minha sogra de volta para a casa dela e está morando com ela até a recuperação  terminar (o que pode levar de 4 a 6 meses).

Durante todo esse tempo, haverá custos de fisioterapia, viagens para São Paulo a fim de realizar os acompanhamento da cirurgia, medicação, troca de carro para um maior e mais alto (já que minha sogra não vai mais poder andar de ônibus vamos ter que levar ela nos lugares em que ela precisar), custos com acompanhante/enfermeiro e, possivelmente, minha esposa parando de trabalhar para ajudá-la.

Some a isso eu estar sozinho em casa, ajudando-as com tudo o que eu posso presencialmente e financeiramente, mas ainda assim me sentindo um imprestável. Some a isso eu ter crises de ansiedade e depressão sozinho em casa e (tentar) esconder isso de todos, perder totalmente o apetite, não conseguir me concentrar no trabalho devidamente, não conseguir dormir, começar a beber com mais frequência e me sentir totalmente desamparado tendo que amparar minha esposa e sogra, motivá-las, acalmá-las, ser uma referência de segurança a ambas.

É claro que não estou legal.

A sensação de desamparo em um momento desses é massacrante. Nunca em minha vida, nem nos momentos mais baixos da minha depressão, me senti tão... tão... nem tenho uma palavra para definir isso. Acho que eu nem quero definir isso. É mais que desamparo, é ver-se como Jó, totalmente obliterado por uma terrível situação que é incontrolável por mim, totalmente a mercê da situação, tendo apenas no Senhor esperanças, mas morrendo por dentro.

Só houve e está havendo uma única coisa que me mantém inteiro, que tem mantido minha sogra e minha esposa inteiros: Jesus.

Como falei em uma das diversas conversas que tive com minha sogra esses dias, Deus nos permite passar por todo tipo de situação, todas com seus próprios propósitos segundo a vontade dEle. Todas com a finalidade de tratar coisas em nós.

O que ele tratou em mim com essa história toda provavelmente só vou saber totalmente no dia em que eu morrer e, pela graça de Jesus, for aos céus. Até lá, só posso supor, e esperar que isso realmente tenha me aperfeiçoado de alguma forma para Ele, e não que seja um trauma que vá me machucar por mais e mais tempo.

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